O actual edifício da Câmara Municipal de Braga, que veio substituir o anterior, renascentista, foi construído entre os anos de 1753 e 1756, a expensas do Senado da cidade e por vontade expressa do Arcebispo D. José de Bragança, irmão legitimado do rei D. João V (SMITH, 1973, p. 506). O seu traçado foi concebido por André Soares, artista natural de Braga e principal nome do barroco minhoto, celebrizado pelos seus traços de arquitectura e talha. Responsável pela dinamização da construção civil e religiosa de Braga, durante os meados do século XVIII, Soares realizou, igualmente, uma notável intervenção urbanística na cidade (SERRÃO, 2003, p. 269).
Implantado no denominado Campo de Touros, o edifício da Câmara define, juntamente com o Paço do Arcebispo (igualmente concebido por Soares), o eixo central de uma praça, em que prevalece um forte sentido cenográfico.
A edificação deste imóvel encontra-se expressa nos livros de vereações, posturas, acórdãos, receitas e despesas da Câmara (SMITH, 1968), sendo a única obra de Soares, devidamente documentada, na cidade de Braga.
A fachada da Casa da Câmara aproxima-se de outras obras de Soares, como a da igreja de Santa Maria Madalena da Falperra ou a da Casa do Raio, pela importância conferida à secção central, onde sobressai a "porta-nicho-frontão" ladeada por fortes pilastras. Contudo, o tratamento destes elementos é diferenciado - mais linear e volumoso, embora mantenha o ritmo que caracteriza a obra daquele arquitecto.
O portal define-se através de duas volutas de grandes dimensões, que recriam um tema muito repetido por Serlio no Livro IV do seu tratado de arquitectura e que deveria ilustrar um fogão de sala (PEREIRA, 1995, vol. III, p. 74). Neste edifício, André Soares traça o caminho seguido na última década de actividade em que, das superfícies graníticas quase lisas, "resulta (...) um novo estilo, que é uma espécie de abstracção linear da outra, essencialmente plástica, em termos de planos superficiais e linhas de contorno, tornando ainda mais estimulante o poderoso desenho" (SMITH, 1973, p. 506). Se André Soares mantém, no contexto da arte portuguesa, uma posição entre o fim do barroco e o início do rococó, neste edifício a sua opção aproxima-se do primeiro, uma vez que a redução de elementos rocaille é significativa (PEREIRA, 1989, p. 457).
Em termos de planta, a opção é muito semelhante à da Casa do Raio, destacando-se, ao centro, a escadaria nobre com patamar. As restantes divisões desenvolvem-se lateralmente à escada. O patamar é iluminado por janelas, cuja colocação revela a importância do claro-escuro e dos contrastes sugeridos, o que traduz a preocupação com a manipulação da luz por parte do arquitecto (PEREIRA, 1989, p. 456).
(Rosário Carvalho)