A segunda metade do século XIX assistiu, entre nós, a uma autêntica explosão de interesse pelas, então, denominadas antiguidades nacionaes, seguindo os trilhos desbravados além-fronteiras por insignes precursores dos estudos arqueológicos, antropológicos, etnográficos e etnológicos.
Com efeito, o conhecimento destas práticas, fosse indirectamente, através da bibliografia que chegava até ao país, fosse pela visão de algumas personalidades ou, ainda, pelo contacto directo mantido nestas esferas por parte de certas individualidades, investiu Portugal de estabelecimentos científicos que, apesar das polémicas nas quais foram pontualmente envolvidas, exerceram uma actividade fundamental para o desenvolvimento ulterior destas jovens disciplinas. Disso são bons exemplos, embora com graus de relevância assaz diferenciados, a Commissão dos Estudos Geológicos, a Real Associação dos Architectos Civis e Archeologos Portuguezes, a Sociedade de Geographia de Lisboa e, por fim, o Muzeu Ethnographico Portuguez. Eram, contudo, organismos lisboetas e de carácter fortemente centralizador. Não obstaram, porém, à formação de outros espaços culturais em importantes cidades portugueses, antes incentivando-as. Foi o que sucedeu em Guimarães, com a Sociedade Martins Sarmentos, da iniciativa do escritor, historiador e arqueólogo vimarenense Francisco Martins de Gouveia Morais Sarmento (1833-1899), a quem se devem algumas das descobertas mais notáveis da Arqueologia praticada ao tempo entre nós (veja-se o caso da Citânia de Briteiros), e com quem privaram individualidades que haveriam de prosseguir o seu caminho.
Foi o que sucedeu com Albano Belino (1863-1906), infatigável indagador do passado minhoto e bracarense, em particular, enquanto se correspondia com personalidades marcantes dos estudos arqueológicos portugueses de finais de oitocentos, dos quais se destacava, sem dúvida, o nome de José Leite de Vasconcellos (1858-1941), mentor e primeiro director do actual Museu Nacional de Arqueologia, entre 1893 e 1929.
E embora se interessasse por todo o tipo de vestígios que evidenciasse o arcaísmo dos territórios que prospectava, a verdade é que manteve desde cedo uma proximidade com o passado romano da cidade de Braga, certamente pela importância que sempre a abarcara no xadrez político nacional ao longo dos tempos, assim como a necessidade de reafirmar o poder da qual se encontrava investido o seu Paço Episcopal.
Não obstante, deve-se a A. Bellino o reconhecimento de várias estações arqueológicas datáveis da Idade do Ferro, nomeadamente castros - ou citânias -, temática bastante grata aos investigadores da época, quer por se enquadrar na linha geral de investigação conduzida noutros países sobre a expansão celta, quer por se revelar um meio de acentuar as particularidades da região nortenha ancoradas nesses tempos e nesses lugares.
De entre estes exemplares, A. Bellino identificou o "Castro do Monte da Consolação", implantado no topo de um monte sobranceiro à própria cidade de Braga, com um fortíssimo domínio visual sobre a paisagem envolvente, numa região particularmente fértil em recursos naturais essenciais à fixação e s
Dotado de um sistema defensivo composto de linhas de muralha e de um fosso, não foram ainda encontrados quaisquer evidências da provável existência de estruturas habitacionais, preferencialmente localizadas intra-muros, na origem, conquanto se recolhesse um número expressivo de elementos indicadores de uma longa permanência de indivíduos, como fragmentos de cerâmica comum e de mós manuais.
À semelhança do que sucede noutros testemunhos desta tipologia arqueológica, o castro foi reocupado ao tempo da conquista romana, como se comprova pela recolha, no local, de materiais de construção romana, como tegulae - telhas rectangulares - e imbrex - telhas em forma de meia cana.
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