A Câmara Municipal de Braga tem promovido um particular esforço com vista a estimular as iniciativas de regeneração urbana e de reabilitação dos edifícios degradados ou devolutos nas zonas centrais da cidade. Todavia, considera que tal esforço deve resultar em primeira instância de iniciativas dos proprietários privados e não da municipalização de tais imóveis, o que seria financeiramente incomportável e politicamente reprovável.
Nesse contexto, foi com natural apreensão que os actuais responsáveis do Executivo Municipal assistiram à degradação do antigo Cinema S. Geraldo ao longo de mais de duas décadas de encerramento, pese embora os múltiplos esforços e projectos do seu proprietário com vista à sua revitalização. A iniciativa arrojada de criação de um Mercado Urbano revelava-se um projecto capaz de concretizar a desejada reabilitação física e a ambicionada regeneração económica deste edifício histórico, ainda que sem valor patrimonial relevante.
Foi compromisso expresso do actual Executivo Municipal dotar a Junta de Freguesia da União de Freguesias de São Lázaro e São João de Souto de instalações próprias condignas, consentâneas com as necessidades de uma das maiores autarquias locais do Concelho de Braga no desenvolvimento das suas actividades correntes, no funcionamento dos seus serviços administrativos e no acolhimento de um vasto rol de projectos e instituições parceiras. Foi por este motivo alcançado um acordo inicial com a Arquidiocese de Braga para o arrendamento com opção de compra do vulgarmente designado “Edifício Pé Alado”.
As condicionantes legais e urbanísticas ao desenvolvimento do projecto integral da Arquidiocese – que incluía ainda valências habitacionais e/ou turísticas –, ora por determinação da Câmara Municipal, ora da Direcção Regional de Cultura do Norte, ora por opção do promotor, levaram à introdução de alterações ao projecto original de intervenção no Pé Alado, que comprometeram as necessidades manifestadas desde início pela União de Freguesias, inviabilizando dessa forma a transferência da respectiva sede para o local.
Em paralelo e na sequência da candidatura de Braga a Cidade Criativa Unesco na área das Media Arts, a Cidade integrou um projecto pioneiro da União Europeia na vertente de desenvolvimento de espaços de incubação criativa e desenvolvimento de residências artísticas em meio urbano, o qual poderá permitir o acesso a linhas de financiamento dedicadas na esfera comunitária. Circunstâncias várias têm condicionada a concretização deste projecto em localizações alternativas.
O Media Arts Centre será um espaço de convergência entre arte, ciência e tecnologia e o meio privilegiado para a criação, experimentação, aprendizagem, apresentação e exposição da produção em Media Arts, constituindo-se como um espaço multipolar, contaminando diferentes locais da Cidade e criando assim uma rede urbana que liga diferentes estruturas com funções e dinâmicas complementares: residências, espaços expositivos, laboratórios, Makerspace, Hackerspace e espaço de cowork entre artistas e empresas.
Complementando as valências já existentes no gnration e reforçando a sua capacidade de resposta, o São Geraldo poderá integrar a rede do Media Arts Center disponibilizando, sobretudo, espaços expositivos e espaço de trabalho para residências artísticas e sendo ainda um espaço de acolhimento do projecto Starts, que permitirá estabelecer ligações entre os artistas e as empresas locais na definição de projectos conjuntos, com ou sem ligação à área do cinema.
Finalmente, o Município de Braga não ficou indiferente ao rol de propostas de parceria e até oportunidades de colaborações mecenáticas formuladas por diversos agentes culturais, no quadro da assunção da candidatura de Braga a Capital Europeia da Cultura em 2027, que apontam para a utilização do S. Geraldo como equipamento cultural de retaguarda em relação a outras valências já existentes e a criar.
A Cidade reclama, assim, a existência de um novo equipamento capaz de acolher um projecto aglomerador que se projecte no futuro, pelo que o S. Geraldo poderá constituir um espaço que contribua para corporizar de forma ainda mais robusta estes projectos.
Um projecto de aproveitamento conjunto pelo Município dos edifícios do S. Geraldo e Pé Alado permitirá assim ir ao encontro desta multiplicidade de fins, assegurando a regeneração urbana de uma parcela importante do Largo Carlos Amarante; dotando a curto prazo a União de Freguesias de instalações modernas e qualificadas; valorizando a participação de Braga na rede Cidades criativas da Unesco e no concomitante projecto da União Europeia; complementando a rede de equipamentos culturais do Concelho no quadro da candidatura a Capital Europeia da Cultura e da programação cultural regular; abrindo porta ao estabelecimento de parcerias orientadas para a sustentabilidade do projecto.
Para o entendimento alcançado – corporizado em dois contratos autónomos de arrendamento dos edifícios S. Geraldo e Pé Alado, ambos com opção de compra – muito contribuiu a disponibilidade da Arquidiocese de Braga, na pessoa do Arcebispo D. Jorge Ortiga, e do promotor privado do Mercado Urbano, cujo projecto poderá ser reorientado para outro local no centro da Cidade.
Submete-se, assim, à apreciação do Executivo Municipal, que se reúne na próxima Segunda-feira, dia 24 de Julho, a minuta do contrato a celebrar, assente no rigor económico e na vontade das partes.